quarta-feira, 8 de junho de 2011

Desabafo sobre a memória

Há poucos dias estive presente num convívio comemorativo dos cinquenta anos da partida para Moçambique da Companhia de Artilharia n.º 179, de que fiz parte, e tive a alegria de reencontrar antigos camaradas de armas com quem convivi durante quase três anos, em condições nem sempre agradáveis.
Mas não é sobre a vida militar e a estadia em África que quero aqui deixar um apontamento. Nem sobre a amizade, tema que sempre foi muito da minha preferência e que já por diversas vezes utilizei em alguns escritos…
Hoje quero reflectir sobre a memória.
Melhor diria, talvez sobre a minha falta de memória…
Durante as conversas que mantive com tantos amigos confirmei a facilidade com que as pessoas recordavam os tempos passados em Inhaminga (Moçambique) relembrando situações vividas, episódios, encontros, conversas, nomes, pessoas e muitas outras coisas que só com muita dificuldade recordei… quando recordei, pois em muitos casos tudo me parecia distante ou esquecido. Porquê?
Também em relação a outras fases da minha vida eu sinto alguma dificuldade em recordar em pormenor os factos que serão “a minha história” e que gostaria de recordar uma ou outra vez. Porquê?
Li algures que os registos que se vão efectuando na nossa memória são constantemente sobrecarregados com novos registos, mais recentes, que se sobrepõem aos anteriores, formando como que camadas finas umas sobre as outras, folhas do álbum da vida que se vão acumulando uma a uma, constantemente, regularmente, sem disso nos apercebermos…
Se algo aconteceu de muito especial, a nossa mente regista o facto como que com uma “apostila” que servirá de referência para uma “visita” (recordação) a qualquer momento; mas as ocorrências correntes, diria normais, da nossa vida são apenas registadas sem qualquer menção especial, pelo que se “arquivam” na memória como se estivessem nas estantes de um museu…
Parece que só com umas “visitas” frequentes e regulares ao nosso passado conseguimos que as “folhas do nosso álbum” não se percam nessas prateleiras nem se extingam na poeira do tempo. Se efectuamos “visitas” frequentes... mais estímulos a nossa memória recebe e com facilidade revive emoções e recria situações passadas. E as recordações aparecem...
Será assim? Que dirão os entendidos sobre a matéria?
Da minha estadia em Moçambique eu recordo apenas alguns factos muito concretos pessoais (terão sido arquivados com apostila?) como a Escola do Quenece, espectáculos no Cinema Império, alguns reconhecimentos no mato, os dois Natais lá passados, uma visita à Gorongosa… e pouco mais.
Da minha juventude tive que me socorrer de muitas fontes e buscas em documentação pessoal e familiar, para me ser possível reunir há poucos meses o material necessário para a concretização dum “sonho” que ofereci escrito a familiares.
Tenho efectivamente uma fraca memória…

Talvez tudo isso seja verdade, mas a verdade é que são os encontros com amigos, as conversas e os convívios, aliás é a própria idade que nos ajuda a ter mais tempo para remexer nas estantes… e folhear os nossos álbuns! É necessário estimular a mente…