quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Arte moderna

        É extraordinária a diversidade de elementos que podem confundir-nos na chamada “arte moderna”, quer estejamos a falar de pintura, música, literatura ou arte em geral. Ao longo dos tempos todos os campos da arte têm sofrido transformações e são extraordinárias as diferenças, por exemplo, entre as pinturas de Botticelli, Renoir, Van Gogh, Malhoa, Almada Negreiros ou Souza Cardoso; ou entre as obras de Dante, Shakespeare, Camões, Miguel Torga ou Saramago; ou as músicas de Bach, Wagner, Villa Lobos, Manuel de Falla, Michael Jackson, José Cid ou Rui Veloso, por exemplo. Cada um no seu estilo, podem apreciar-se e gostar-se ou não, mas todas nos merecem respeito e sem esforço se verifica estarmos perante uma obra arte. Tradicional ou não, há uma expressão artística.
Há no entanto outros casos em que, apesar de me esforçar, não consigo ver arte…
Num dos capítulos do excelente livro “Cultura” que um dos meus netos me ofereceu há algum tempo, o autor Dietrich Schwanitz refere que existem três atitudes típicas perante a arte moderna: a do conhecedor da arte moderna, a da recusa da mesma e a do idiota que julga poder entender a arte moderna aplicando-lhe a postura habitual perante a arte tradicional. Pois eu acho que poderá verificar-se uma quarta atitude que é precisamente a que julgo ter: não sou conhecedor, não a repudio, nem quero apreciá-la segundo critérios tradicionais: simplesmente não consigo na maioria das vezes descortinar beleza ou sentimento no que estou a ver.
Por exemplo nestes trabalhos de Marcel Duchamp, diz-se serem exemplos da chamada arte conceptual em que o elemento artístico passa para segundo plano e o observador é que deve imaginar o quadro ou a escultura…

Pois eu queria descortinar aqui qualquer coisa de especial, talvez de belo, mas só vejo objectos banais, comuns, sem quaisquer elementos de criatividade, nem sequer visão de cores, de conjunto. O que imagino? Uma roda, uma pá e um urinol.
Tenho visto muitos quadros que, embora não apresentem nada de concreto que todos possamos desde logo identificar, ao fim de alguns momentos de reflexão conseguimos visualizar uma perfeição do conjunto, ou graciosidade do desenho, perícia do traço, beleza das cores.

 Em qualquer um destes quadros de Almada Negreiros, Joan Miró ou Amadeo Sousa Cardozo notamos beleza de conjunto, harmonia de cores, é com agrado que se faz a sua visualização. Não serão quadros para explicar mas simplesmente para apreciar. À primeira vista nada nos surge mas depois brota um elemento que nos transmite qualquer coisa de belo, de íntimo e por vezes é até apenas a nossa imaginação. Curiosamente, acontece que ao nosso lado alguém “vê” no mesmo quadro outro elemento totalmente diferente e que nós não conseguimos descortinar. Mas olhamos e sabemos estar ali “qualquer coisa”… e não sentimos nem repulsa nem indiferença. Se nos fixarmos bem em qualquer um deles conseguiremos observar elementos diversos estilizados, imaginados, quase concretos.
O que se passa com a pintura ocorre igualmente com a poesia, a literatura, a música e outras formas de arte em que sinto alguma dificuldade na apreensão da criatividade que evidentemente existirá nessas obras.

domingo, 6 de novembro de 2011

Deputados


Quando passo os olhos pelas bancadas da nossa Assembleia da República penso muitas vezes que nunca lá vejo alguém em quem eu tenha votado. Há umas personagens que ao longo dos anos passaram a ser figuras sempre presentes, umas caras mais ou menos conhecidas – umas por bons, outras por maus ou hilariantes motivos – com algumas movimentações regularmente combinadas ou programadas, substituições periódicas ou ocasionais mas, concretamente, sinto que a nenhuma daquelas pessoas manifestei o meu voto pelo que nenhuma delas me representa.
A verdade é que os portugueses votam em partidos e não em deputados. Quando eu voto no partido A ou B ou C eu não sei se estou a votar no candidato Z ou Z1 ou Z2, e apenas estou a endossar ao chefe do partido A ou B ou C a possibilidade de me substituir nessa escolha, sem saber se o candidato da minha preferência vai ter na respectiva lista uma posição que lhe permita a eleição.  
Em análise mais correcta eu diria que aqueles “senhores deputados” são a escolha final de meia dúzia de políticos profissionais que ascenderam à posição de chefes dos partidos da nossa cena política e que, eles sim, escolhem e decidem, em cenáculos internos e segundo interesses próprios, quem faz ou não faz parte da respectiva lista, ordenando-os em “classificações” muito discutíveis, em conformidade apenas com questões internas ou até pessoais, com interesses reservados ou conhecidos apenas das cúpulas e que portanto me ultrapassam completamente.
Porque razão na minha terra natal aparece um candidato que à terra nada diz? Porque motivo no meu distrito surge o nome de um candidato de outra região? Quais as razões porque os senhores membros das comissões (ditas) nacionais dos partidos e outros cargos dirigentes tem os seus nomes espalhados por diversos círculos, sempre em lugares previsivelmente elegíveis?