domingo, 7 de outubro de 2012

JORGE MOYANO


     Realizou-se na passada sexta-feira, 5 de Outubro, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, o concerto de piano de Jorge Moyano. Já há meses que eu esperava por este recital de Jorge Moyano integrado na programação da CEC e por isso já há mais de uma semana tinha adquirido os bilhetes. Eu já tinha assistido a um outro concerto dele, também em Vila Flor e também no pequeno auditório, como agora, tendo fixado definitivamente o nome dele como dos melhores pianistas que já tinha ouvido. Voltou a estar a sala cheia e isso deve constituir um duplo orgulho para a CEC, pois comprova que Guimarães tem sempre público para estes espectáculos – e os concertos a solo ou com orquestra tem tido quase sempre casa cheia – mas também que as escolhas dos programadores da CEC têm sido acertadas.
     Devo referir que penso que neste ano de 2012 já devo ter assistido a mais concertos, sobretudo de orquestras, que nos últimos cinco ou dez anos… Embora tenha algumas noções de música e me considere um apaixonado da mesma, confesso que não terei conhecimentos suficientes para poder dar opiniões bem fundamentadas sobre este ou aquele concerto, este ou aquele espectáculo, este ou aquele concertista… Mas ninguém me pode negar o direito de formar uma opinião que alicerço naturalmente na minha percepção do que… gosto ou não gosto.
     Sobre Jorge Moyano já tinha uma opinião face ao que me lembrava de ter ouvido no último concerto e foi calmamente que me sentei para ouvir a sua execução de um programa que era constituído por quatro pequenos trechos (chamaram-lhe miniaturas…) do compositor português Armando José Fernandes, escritos em 1928, seguindo-se uma sonata de J. Brahms e, na segunda parte, dois nocturnos, uma barcarola e a polonaise Heróica de Chopin intercaladas com uma obra de Liszt.
     As miniaturas de António José Fernandes são trechos muito curtos e simples na sua estrutura, parecendo prelúdios de Chopin ou peças de estudo, muito harmoniosas que se ouviram com muitíssimo agrado. Seguiu-se a sonata de Brahms com cinco andamentos quase sempre fortes, interligados com frases melodiosas mas rondando sempre o mesmo tema. Ouvi toda a peça com serenidade, embora por vezes me sentisse um pouco cansado da sua complexidade melódica… Mas fiquei extasiado sobretudo com a maestria do desempenho do concertista, em especial no terceiro andamento, muito triste, compassado, inebriado, intimista. Accionava as teclas do piano quase por favor, concedendo uma interpretação expressiva intensa.
     Se me impressionou essa forma delicada de tocar essa sonata mais a notei em toda a segunda parte do concerto, até porque a própria programação era composta por obras muito mais harmoniosas e… conhecidas. Se a peça de Liszt nos aproximava muito da música religiosa as peças de Chopin possuíam aquelas sequências naturais das obras deste autor, muito trabalhadas, intercaladas com pequenas escalas, muita musicalidade e sempre, mas sempre, apresentadas com uma ternura e expressividade que conquistam qualquer pessoa.
    Toda esta minha admiração não me impede de registar um pequeno mas… A velocidade das sequências das escalas da polonaise op. 35, também conhecida por Heróica, foi a meu ver demasiado elevada e com fortíssimos muito grandes, deixando as sequências por vezes embrulhadas em tanta sonoridade que não deixavam recepcionar plenamente a melodia. No entanto não é este pormenor que desilustra a actuação global do pianista.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Facebook


Tem havido grande alarido com a situação política do país, face ao generalizado descontentamento da população com as várias medidas tomadas pelo governo, com vista ao controlo do deficit e conforme as obrigações assumidas perante os organismos internacionais que efectuaram o empréstimo a Portugal. Já se realizaram algumas manifestações públicas, algumas com muita adesão e muitos milhares de manifestantes. Foi convocada uma reunião do Conselho de Estado que já se realizou e até uma enorme manifestação junto às instalações da Presidência da República onde se registaram alguns incidentes, mas de pouca monta.
O que eu noto, nas manifestações de rua, nas arruaças quase diárias em qualquer local onde tenha que se deslocar qualquer membro do governo, nos comentários dos jornais e nas reportagens televisivas, é um exagero nos termos usados quer na linguagem quer nos gestos e atitudes, todos gritando e soltando insultos a este e àquele, como se houvesse um caminho muito diferente a percorrer que não fosse o combate ao desperdício, a poupança e a tentativa de remediar tantas asneiras feitas em tempos passados, não muito longínquos. Quase todos os dias surgem notícias de factos e decisões tomadas anteriormente e que agora se tornam quase impossíveis de suportar, e todas as recriminações estão a cair sobre os dirigentes actuais como se fossem eles os culpados de tudo.
Até no facebook que agora visito regularmente (não sei se me virei a arrepender…) aparecem frases e até insultos que, a meu ver, são injustos ou descabidos, mas tudo parece uma bola de neve que, com uma palavra daqui e outra dali, uma piada deste e outra daquele, um insulto “engraçado” que se torna “moda” e outras situações… tudo vai engrossando não sei até que ponto e onde parará, se é que vem a parar.
Por outro lado já não é novidade para ninguém que este movimento das chamadas redes sociais é uma força quase incontrolável, pois o que começa por ser uma brincadeira ou por vezes apenas uma provocação pode autodesenvolver-se e originar um movimento de consequências enormes. É muito fácil ter acesso a estas redes, escrever uma frase ou até “atirar uma pedra”, ninguém controla se é verdade ou mentira e a “mensagem” espalha-se velozmente. Tudo isto vai sucedendo também porque há muita gente a dar razão aos insatisfeitos: muita asneira se tem feito, muito desperdício ocorre, muita corrupção existe, muita incompetência tem sido premiada e muita injustiça tem sido praticada. E a justiça, onde está? E os valores morais por que se perderam?
Não se podem tratar os assuntos sem insultar? Não se podem dar opiniões, mesmo diferentes, sem recorrer a impropérios?