Integrado na programação de Guimarães –
Capital Europeia da Cultura 2012, assisti no Centro Cultural Vila Flor a mais
um concerto da Fundação Orquestra Estúdio, desta vez sob a direcção do maestro
Miguel Graça Moura, de quem eu tinha uma imagem de alguma juventude mas que,
afinal, já anda na casa dos 65 anos! Recordo-me também de alguma polémica em
que o seu nome esteve envolvido, por causa da Orquestra Metropolitana de Lisboa
há uns anos, mas parece ter ultrapassado tudo, e ainda bem. Apesar dessa idade
e até um certo andar pesado e mais compassado (qualquer problema físico?) e embora
eu tenha pressentido na sua direcção algumas hesitações iniciais, talvez
erradamente, o certo é que me convenceu por completo com a sua direcção. Muito
firme, puxando bem e firmemente por todos os naipes, foi também muito simpático
no final com os solistas e todos os intérpretes e até com o público que brindou
com dois encores.
O programa foi totalmente português, pois
foram executadas três obras de nacionais: inicialmente e em estreia mundial a
obra intitulada “Poema de Maresia” de
António Vitorino de Almeida (que estava presente na assistência); depois e
também em estreia mundial o “Concerto
para Clarinete e Orquestra” de Mário Laginha, também presente na sala; e
finalmente a sinfonia “A Pátria” de
José Vianna da Motta. Ora como o clarinetista solista foi Carlos Piçarra Alves…
conclui-se que foi um concerto totalmente português.
Saí muito satisfeito. Da obra de António
Vitorino de Almeida eu estava com certo receio, pois imaginei que enveredasse
por um estilo muito técnico e moderno, como ultimamente tenho ouvido algumas
suas intervenções, como intérprete ou como autor. Mas não, era uma peça muito
densa, mas com sentidos recortes de música portuguesa onde descobri, aqui e
ali, frases que eu quase diria conhecer… deste fado… ou daquela canção… Não
faltaram naturalmente situações de muito clamor, mais complicadas, ou de muita
serenidade e agradável sonoridade. Até vi pela primeira vez num concerto de
orquestra a presença e o bonito som de um acordeão! Mais ainda: para além do
piano havia também um (ou uma?) clarinova, com o som e formato muito parecido
com o cravo.
O concerto do Mário Laginha foi outra
surpresa, pois estava à espera de uma quase sequência de música de jazz mas,
afinal, foi outra conseguida obra com retoques bem portugueses, onde também
descobri muitos compassos de autêntico folclore, quase “conhecidas” melodias,
naturalmente muito misturado com ritmo e acordes de muito vigor. Um registo
também para o virtuosismo do clarinetista que a todos contagiou com a sua
sonoridade e sentimento. Muito bom.
A finalizar o esplêndido espectáculo ouvimos
a sinfonia de José Vianna da Motta muito mais extensa e envolvente, com quatro
andamentos perfeitamente identificados, com um início alegre e vigoroso,
seguindo-se um entretenimento absolutamente envolvente e solene, um terceiro
com frequentes citações marcadamente portuguesas, embora em determinada altura
tenha surgido uma referência castelhana… de que não gostei muito. O final é
solene intercalando os andamentos lentos com partes mais vivas, e com um final
muito feliz.
Pareceu-me ter sido do agrado de toda a
gente e, no final deste concerto, fiquei apenas com uma dúvida: de que gostei
mais? Do poema rico de António Vitorino de Almeida? Do concerto diversificado do
Mário Laginha? Da sinfonia majestosa do Vianna da Motta? Da interpretação soberba
do clarinetista? Da direcção firme de Graça Moura? Da actuação geral da
Fundação Orquestra Estúdio?
Não sei escolher…