sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ontem cansado

                               
Em tempos passados imaginei
um mundo luminoso, formidável,
fraterno, solidário, sem rancor,
completamente embriagado
no desejo permanente de se dar.
Sempre pensei:
Admirável mundo, admirável…
tanto trabalho com amor,
tanto casal entrelaçado,
tanta criança a correr, a brincar
à espera do futuro, um mundo belo, sonhei…
………
Ontem, desiludido, cansado,
ao saber de tanta fome, tanta dor,
tanta maldade, tanta injustiça,
tanta preguiça, tanto rancor,
tanto idoso em solidão, sem companhia, sem pão...
Sem forças p’ra mudar seja o que for
virei a cara à luta e disse: NÃO!
Feri os meus sentidos, fechei o olhar,
rasguei conceitos, fiz-me ignorado,
aboli sonhos, vi a solidão, e gritei alto: não quero sonhar!
Que importa a dor, se a mim nada me dói?
Que importa a fome, se a mim não falta o pão?
Que importa a guerra, se em mim tenho a paz?
Se tornam ódio o que ontem amor foi,
deixem-me só. E nessa confusão
lutem os outros. A mim tanto me faz…
………………
Hoje, indeciso,
volto a pensar em tudo novamente,
a re-colar pedaços de ilusões,
volto a olhar tanta criança a correr
alegremente...
E tento crer que há um querer ardente
a sobrepor ao ódio e às paixões.
Não desistir, acreditar, crer,
querer recomeçar, a descobrir
que tudo é possível alcançar.
Sentir o que é preciso sentir
ao olhar o céu, o sol, as flores,
abrir a alma, sentir os odores,
ver o sorriso de alguém
que nos abraça, nos quer.
Se a esperança vier
quem nos impede? Ninguém…

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Quarenta e sete

               Quarenta e sete anos se passaram
               Tão depressa,
               Num instante que se estende
               E que aquece
               E só o coração entende.
               Dia a dia, passo a passo,
               Lado a lado num abraço
               Que os beijos prolongaram.
               Tanto tempo p’ra sentir
               Tanta alegria, o teu calor,
               Reter o teu olhar, o teu sorrir.
               Tanto sorriso e brincadeira,
               Tanto silencio sofredor,
               Tanto desabafo de cabeceira
               Tanto amor.
               Quisera escrever bonitas prosas
               Mil palavras, mil sonetos
               E gritar aos quatro ventos
               Tudo aquilo que me deste e eu sonhei:
               Duas filhas, quatro netos.
               Desculpa-me, porque sei
               Que os meus ais, os meus lamentos
               Nada são mais que ornamentos
               Ao teu amor, que ganhei.