Realizou-se na passada
sexta-feira, 5 de Outubro, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, o
concerto de piano de Jorge Moyano. Já há meses que eu esperava por este recital
de Jorge Moyano integrado na programação da CEC e por isso já há mais de uma
semana tinha adquirido os bilhetes. Eu já tinha assistido a um outro concerto
dele, também em Vila Flor e também no pequeno auditório, como agora, tendo
fixado definitivamente o nome dele como dos melhores pianistas que já tinha
ouvido. Voltou a estar a sala cheia e isso deve constituir um duplo orgulho
para a CEC, pois comprova que Guimarães tem sempre público para estes
espectáculos – e os concertos a solo ou com orquestra tem tido quase sempre
casa cheia – mas também que as escolhas dos programadores da CEC têm sido
acertadas.
Devo referir que penso que
neste ano de 2012 já devo ter assistido a mais concertos, sobretudo de
orquestras, que nos últimos cinco ou dez anos… Embora tenha algumas noções de
música e me considere um apaixonado da mesma, confesso que não terei
conhecimentos suficientes para poder dar opiniões bem fundamentadas sobre este
ou aquele concerto, este ou aquele espectáculo, este ou aquele concertista… Mas
ninguém me pode negar o direito de formar uma opinião que alicerço naturalmente
na minha percepção do que… gosto ou não gosto.
Sobre Jorge Moyano já tinha
uma opinião face ao que me lembrava de ter ouvido no último concerto e foi
calmamente que me sentei para ouvir a sua execução de um programa que era
constituído por quatro pequenos trechos (chamaram-lhe miniaturas…) do
compositor português Armando José Fernandes, escritos em 1928, seguindo-se uma
sonata de J. Brahms e, na segunda parte, dois nocturnos, uma barcarola e a
polonaise Heróica de Chopin intercaladas com uma obra de Liszt.
As miniaturas de António José Fernandes são trechos muito curtos e
simples na sua estrutura, parecendo prelúdios de Chopin ou peças de estudo,
muito harmoniosas que se ouviram com muitíssimo agrado. Seguiu-se a sonata de
Brahms com cinco andamentos quase sempre fortes, interligados com frases
melodiosas mas rondando sempre o mesmo tema. Ouvi toda a peça com serenidade,
embora por vezes me sentisse um pouco cansado da sua complexidade melódica… Mas
fiquei extasiado sobretudo com a maestria do desempenho do concertista, em
especial no terceiro andamento, muito triste, compassado, inebriado, intimista.
Accionava as teclas do piano quase por favor, concedendo uma interpretação
expressiva intensa.
Se me impressionou essa
forma delicada de tocar essa sonata mais a notei em toda a segunda parte do concerto,
até porque a própria programação era composta por obras muito mais harmoniosas
e… conhecidas. Se a peça de Liszt nos aproximava muito da música religiosa as
peças de Chopin possuíam aquelas sequências naturais das obras deste autor, muito
trabalhadas, intercaladas com pequenas escalas, muita musicalidade e sempre,
mas sempre, apresentadas com uma ternura e expressividade que conquistam
qualquer pessoa.
Toda esta minha admiração
não me impede de registar um pequeno mas… A velocidade das sequências das
escalas da polonaise op. 35, também conhecida por Heróica, foi a meu ver demasiado elevada e com fortíssimos muito
grandes, deixando as sequências por vezes embrulhadas em tanta sonoridade que
não deixavam recepcionar plenamente a melodia. No entanto não é este pormenor
que desilustra a actuação global do pianista.