E… pensar
muito. Pois é, de tanto pensar é natural que se repitam os pensamentos e voltem
algumas ilusões e permanentes exames de consciência e alarmes quanto ao futuro
e incertezas em relação a tudo quanto já fiz, muito? Pouco? Bem ou mal? Algo de
especial? Alguma coisa ficará? Mas há interesse em ficar alguma coisa? Se olhar
para trás, se olhar para antes de mim, vejo muito pouco, nada ou quase nada, e
posso concluir que a memória só temporariamente existe e sempre tudo se esquece,
mais cedo ou mais tarde, pais, avós, bisavós, e antes? Os avós dos avós dos meus
avós? Quem os lembra concretamente? Como sentiam e amavam? Este sangue que
corre nestas minhas veias onde começou? Um só acaso de um acontecimento me
trouxe aqui mas bastaria uma qualquer diferença e eu não seria eu, seria outro.
Podia ser outro, ou outra, ou até nem ter nascido, ter nascido noutro lugar,
noutro tempo, e tudo seria diferente. Nem sequer serei propriamente dono do meu
“eu”. Mas agora estou aqui a pensar e a escrever e ninguém sabe e pode nem vir
a saber o que estou a pensar e a escrever, sei eu e a minha consciência, sinto
eu na minha mente e na ponta dos dedos e no barulho das teclas deste computador
onde escrevo. Mas ele não sente e apenas anota os caracteres de conformidade com
a tecla onde carrego. Foi esta grande verdade que li há poucos dias no livro “Abraço”
do José Luís Peixoto e aqui estou a repetir… Quer isto dizer que nem sequer ideias
próprias estou a ter e só sou capaz de repetir aquilo que já li ou ouvi… Nem
aquele autor saberia nem virá a saber o que estou a pensar aqui e agora sobre o
que escreveu. Mas eu li e senti e sinto. Os pensamentos são leves, até breves e
diversos e correm bem mais depressa que o tempo que demora a sua inserção nesta
folha virtual à minha frente, neste computador. E é virtual porque um só clique
e ela pode desaparecer de imediato, mas o que escrevi continuou a “ter existido”
porque o pensei e senti.
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