sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Insignificância

      
A lisa folha branca à minha frente
espera impaciente que eu lhe diga
aquilo que me vai no pensamento.
Difícil de saber se é que existe
alguma coisa que eu possa sentir,
alguma coisa que eu possa pensar,
no deserto de ideias que pressinto
esvaziar-me a alma lentamente.
Sinto um vazio cá dentro de mim,
árvore sem folhas ou lago sem água,
céu sem estrelas, só escuridão
grande, tão grande, imensa sem fim
que este vazio se transforma em mágoa
que abafa tudo e vem a solidão.
Há picos de cansaço, de fadiga,
vazios que rodeiam o momento
do desejo, que não foge e persiste,
de ter coragem para assumir
a insignificância do meu meditar.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Silêncio

Estou só
em templo sagrado, com sombras, vazio,
retenho o silêncio que em mim afugenta
fantasmas medonhos e dores impensadas.
No chão grandes lajes tapando outras vidas,
redobra o silêncio, lhes sinto o frio.
São altas colunas de pedra cinzenta
polidas pelo tempo subindo aprumadas,
directas para o céu, no tecto perdidas.
Fileiras de bancos corridos, com pó!
Em paredes nuas, brancas, quase brancas
que o tempo passado só escureceu
há nichos vazios, sem santos, com nada…
vejo apenas sombras no branco acolhidas!
Mas sinto o silêncio, enorme, profundo
como se agora eu fosse o centro do mundo…
Estou só,
mas sinto uma paz, um tão grande sossego
cá dentro, bem fundo, no fundo da alma
que sinto-me bem e aqui gosto de estar.
Deixo passar o tempo, com fé, sem medo
porque o resultado final desta calma
é que quando eu quiser eu posso voltar.
A estar só!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

SONHO


Tanto sonhei, meu Deus! Eu não devia
sonhar tão alto. Oh! Como eu lamento
ter olhado o céu, todas as estrelas,
ser tolo e tentar falar com elas,
tocá-las com ardor! Eu até queria
olhá-las e beijá-las uma a uma
para sentir nas minhas mãos a espuma
de todo o azul do céu, do firmamento.
Tanto sonhei, meu Deus, eu me excedi
em sonhos, loucos sonhos, sem pensar 
que o sonho que tão louco assim sonhei
ultrapassava em muito o que podia!