terça-feira, 22 de maio de 2012

Cleonice Berardinelli

            Nas páginas dos jornais surgem por vezes algumas agradáveis reportagens que leio com agrado e até me surpreendem pela clareza do seu texto e por me chamarem a atenção para factos que até me poderiam passar despercebidos ou pura e simplesmente seria incapaz de descobrir.
            A jornalista Alexandra Lucas Coelho já me habituou a excelentes reportagens no “Público” sobre diversos temas e, em 19 de Maio corrente, teve a feliz ideia de efectuar uma com o título “Que mistério tem Cleonice?” e me despertou toda a curiosidade e pela qual deve ser amplamente elogiada, não por se referir apenas a uma sessão comemorativa dos 175 anos do Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, (que por si só poderia aqui em Portugal ser considerado uma notícia corrente…) mas sobretudo pela forma clara, íntima, informal, amorosa e gentil que releva para com a professora universitária brasileira Cleonice Seroa da Mota Berardinelli (Rio de Janeiro, 28 de agosto de 1916) especialista em literatura portuguesa, que tinha sido convidada para falar na sessão. Apesar dos seus 95 anos dissertou amplamente sobre a história da instituição e sobre literatura portuguesa, sempre com uma  clareza e linguagem perfeita, sábia e cativante, lendo, improvisando, citando um e outro escritor, um e outro texto ou poema, com facilidade e para deslumbramento de todos.
            A reportagem está muito bem apresentada mas o que eu queria aqui registar é uma “conclusão” brilhante da palestrante e que nunca vi abordada: os pares Fernão Lopes – Alexandre Herculano e Gil Vicente – Almeida Garrett. Herculano com raízes no velho cronista medieval e portanto rigoroso, ascético, mais frio, duro e inflexível; e Garrett o “primeiro romântico de Portugal” dândi, amante de mulheres e dos títulos. Termina com a frase “ama-se Garrett apesar dos seus defeitos, ama-se Herculano apesar das suas virtudes”.
            Como escreveu a jornalista: "Lá fora continua a chover. E no fim, sim, chegam flores. Rosas para o mistério da eterna juventude de Cleonice Berardinelli”.

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