O tempo
estava bom, atravessamos a Ponte Romana – como dois namorados, bem-dispostos,
de mão dada – e fomos visitar o Museu do Brinquedo Português, instalado num
edifício restaurado e muito bem cuidado, junto ao Parque do Arnado. Começou por
ser uma colecção particular que foi aumentando dia-a-dia com aquisições e trocas
com outros colecionadores e agora, com mais de 2.000 brinquedos, tornou-se uma verdadeira
atracção turística da vila, com o patrocínio da Câmara Municipal. A visita
inicia-se com a apresentação de um pequeno filme com a história da criação do próprio museu e continua depois com a visita por dois
pisos e várias salas, com os brinquedos dos mais diversos feitios e tamanhos,
desde os mais antigos em zinco, cartão, madeira, plástico e outros materiais
até aos mais recentes, quase sempre identificando as suas origens de fabrico,
pelo que tivemos até a oportunidade de ver brinquedos fabricados aqui em
Guimarães na “Pátria” e na “Ribeirinho”, fábricas que já não existem...
Foi uma
visita interessante e reparei na alegria das muitas crianças que por lá
passeavam com os pais ou outros familiares. E foi então que tive uma sensação de
uma certa melancolia, quase tristeza… Foram vários os adultos que vi
referirem-se com agrado e curiosidade a determinados brinquedos “olha um
carrinho igual a um que tive”, “olha os jogos da Majora”, “aqueles soldadinhos
eram como os meus”, “aquela pistola”, “aquele bombo”, “aquele triciclo…” e
tantas outras lembranças… E eu? Por muito esforço que queira fazer, por muito
que tente, chego quase sempre à conclusão que nada me faz recordar com rigor a minha
infância, sinto um grande vazio nas minhas recordações, não me recordo ao certo
dos brinquedos, dos lugares, até dos amigos… Um brinquedo que tenha sido
especial ou muito querido… Nada.
Já por
mais que uma vez esta questão me tem passado pela cabeça e recordo que quando
escrevi o “Folhas do meu álbum” me referia quase sempre e só às pessoas de
família ou outras conhecidas, mas muito pouco registei de factos ou “aventuras”
infantis. E brinquedos? E brincadeiras? Um pião, um carrinho de rolamentos, uma
bola, o jogo do botão? E amigos a valer? Um ou outro nome ali metido quase à
força, sem grandes pormenores, porque efectivamente a minha infância ter-me-á
passado muito depressa e distante... Ao certo, ao certo, só me lembro dos santinhos,
dos selos, dos sinos da Igreja do Calvário e pouco mais.
Talvez
porque saí cedo de Penafiel, para o seminário, talvez porque os meus irmãos
tinham idades um pouco mais avançadas e tinham outras companhias, talvez porque sempre tive um feitio muito introvertido, talvez porque as
dificuldades financeiras da época e da minha família me “afastaram” de outros convívios, talvez…
talvez… talvez…
Que
importa agora pensar nisso?
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