Há mais de cinquenta anos, mais precisamente em 1957, com a cabeça cheia de ilusões e deslumbramento, com o coração puro e a mente ainda não poluída, tive a oportunidade de redigir uma pequena poesia que ainda hoje recordo de cor e que dizia assim:
A Verdadeira vida
Tivesse eu asas, p’ra poder voar,
Fosse eu o vento, p’ra ninguém me ver
Iria longe, a todos perguntar:
O que é a vida, que será viver?
Será a vida apenas o espaço
Que do nascer nos leva até à morte?
Será o tempo que nós, passo a passo,
Vencemos, uns com tino, outros à sorte?
É isso só? Após a morte, então,
Nada mais há? Tudo pois morreu?
E então a alma que é o coração
Do nosso espírito, desapareceu?
Deus me ilumina e agora conheço
Que a vida é mais e não é só assim.
A verdadeira vida tem começo
Na própria morte, que é o nosso fim.
Ao rever a esta distância estas palavras tão simples, eu hoje desejaria acrescentar alguma coisa ao pensamento "daquele jovem" que fui... mas cujo espírito continua a acreditar na esperança:
Se as asas que eu um dia sonhei ter
quando tinha pouco mais de quinze anos
tivessem existido realmente,
saberia que a vida pode ser
muito mais que aquele falado espaço
que do nascer nos leva até à morte.
Há todo um tempo que decorre velozmente
mas que é nosso dia a dia, hora a hora,
(como então disse) passo a passo,
e nos é dado para agir,
aproveitar, saber utilizar e ter a sorte
de encontrar um bom amigo
que nos possa ouvir.
Sorte é também sentir prazer
em oferecer o pouco que nós temos
e tantas vezes nem sabemos
o que isso vale…
A vida passa tão depressa
que o que interessa
é acreditar que tudo é acompanhado,
merecido ou virá a ser reconhecido.
Não há fado, nem enfado,
há a vida dia a dia que merecemos
que gozamos ou sofremos,
porque tudo é passageiro
e duradouro, duradouro,
é o bem que nós fizermos
e o mal que aos outros perdoarmos.
Não esqueçamos no entanto que existe a dor
sofrimento, falta de amor,
e de certeza que alguém está pior que nós.
E por vezes
nem sequer ouvimos a sua voz.
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