segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Globalização

            Muitas vezes dou comigo a pensar no modo como as coisas agora se processam no dia-a-dia das pessoas, parece que rotineiramente mas sempre com as “novidades” indicadas ou aconselhadas, controladamente, por enquanto até ordeiramente, como um grande rebanho dirigido ou orientado por algo desconhecido ou distante, mas com serviçais ambiciosos que tudo orientam, tudo definem e parametrizam, friamente, sem aviso. Quase que estamos impedidos de fazer ou decidir conforme o nosso gosto, sem pressão, sem indicação ou aconselhamento, pois tudo nos é sugerido ou imposto, em pacote, conforme mandam as regras do mercado. Globalmente. Abandona-se o indivíduo e aparece a multidão.

         Uns dizem que é a modernidade, a tecnologia, a inovação, a globalização económica e cultural entre os diversos países, outros falam nos mercados, na pressão financeira, no desaparecimento de muitas barreiras físicas e culturais e sugerir algo pessoal ou diferente é remar contra a corrente, é conservadorismo, é impróprio de “modernidade”. Tudo deve funcionar globalmente, grandes grupos, grandes superfícies, grandes bancos, grandes empresas, grandes… insensibilidades… E do que deveria resultar benefício para o “indivíduo” passa a reverter em mais lucros para esses gigantes que dominam os mercados.
         Não se fala com pessoas mas com “máquinas”, e mesmo ao telefone surge quase sempre uma voz de call center, que não sabemos quem é, que a seguir nos dá uma música durante largos minutos, frequentemente nos orienta depois através de números (se deseja… marque, se deseja… marque, se deseja… marque…) e por fim nunca pode esclarecer completamente o que desejamos saber e acaba por nos referir “tomamos nota e oportunamente será contactado”.
         Sim, somos contactados muitas vezes sem o desejar, a qualquer hora do dia, às vezes até da noite, porque o nosso nome ou número consta de uma infinidade de listas que os “grandes grupos” trocam entre si e que “amavelmente” nos vêm sugerir isto e aquilo em que nem sequer pensávamos e que assim, sub-repticiamente, nos fica a raiar na memória.
         Somos verdadeiramente inundados com supérflua publicidade e apesar de permanentemente “convidados” a aquisições desnecessárias, estamos limitados a regras, normas e procedimentos impostos pelos grandes grupos financeiros ou económicos, num regime de “standardização” em que deixamos de ser pessoas para passarmos a ser números. Passa a vigorar o número de senha que nos saiu na maquineta…
         Entretanto no cerne da questão estão os “orientadores” que comandam toda esta movimentação global com toda a sua corte de serviçais ambiciosos. E, uma vez ou outra, quando desprevenidamente escorregam… no escândalo, na corrupção, no compadrio, na desonestidade, lá vem a público um ou outro caso que é notícia de primeira página em grandes parangonas mas que logo desaparece, quase sem deixar rasto.
         Afinal, que liberdade nos trouxe a globalização?

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